Praça Roosevelt – mais uma revitalização

Com 2 anos de atraso está saindo o projeto de reforma da Praça Roosevelt, no centro de São Paulo, prevendo a retirada da laje pentagonal, escola, floricultura, supermercado e bases da polícia militar e guarda civil.

foto Prefeitura de São Paulo

A prefeitura publicou no site a seguinte diagnóstica: “Por abrigar desordenadamente diversos equipamentos públicos e privados, a praça é de difícil acesso para as pessoas e contribui para a poluição visual da região central da capital paulista.” Além de ser uma frase curiosa, misturando alguns problemas e (pré)conceitos, inverte-se causa e efeito. É por causa do dífícil acesso com muitos desniveis e o aspecto decadente da laje, devido a falta de manutenção pública, que o complexo é considerado desordenado e até inseguro e desagradável. Parece então injusto o supermercado e floricultura levarem a culpa pela bagunça.
A partir deste projeto de revitalização quero questionar dois aspectos problemáticos do urbanismo paulistano atual:

1. A tendência obsessiva – talvez herança da ditadura e do movimento modernista – de separar funções e o público do privado.
Hoje já temos conhecimento o suficiente da complexidade da metrópole contemporânea, e do desempenho social de espaços monofuncionais e -culturais versus espaços com mistura de funções comerciais, residenciais, públicas e de lazer, formando espaços híbridos. Não tem por que repitir os erros antigos. As críticas frequentemente direcionadas aos espaços semi-públicos, como da tematização ou disneyficação, tratam dos maus exemplos. O desafio para a Emurb e a inciativa privada está ali.
Realmente, a Praça Roosevelt merece um paisagismo diferente e principalmente bons acessos, más isso não implica necessáriamente a retirada dos equipamentos. O projeto prevê áreas cobertas apenas para algumas funções públicas como um telecentro, negando a integração de público e privado que há por exemplo no Largo do Arouche onde restaurantes, floriculturas, brinquedos e a base móvel da polícia regulam juntos o uso social, a segurança e manutenção da praça.

2. A revitalização urbana promovida por meio da remoção e demolição de construções recentes.
Não é uma tendência tipicamente paulistana, há muitos exemplos europeus e norte-americanos de bairros populares cujo estoque de área construída está sendo radicalmente diminuido pelas demolições. A grande esperança dessas mega-demolições é que junto com o entulho, os traficantes, prostitutas, vándalos e moradores de rua também sejam removidos, para surgirem de novo em outro lugar obviamente. Para bancar o custo da demolição e da nova infraestrutura, o novo empreendimento visa ocupação futura por uma população com maior poder aquisitivo.
A impotência da arquitetura como construção física sem base econômica-social, pode ser observada na própria Praça Roosevelt depois da remoção do supermercado e escola. Os prédios foram invadidos logo em seguida, luzes apagadas e em menos que um mês o lugar se tornou um obstáculo onde os moradores não querem mais passar de noite. Na calçada paralela, onde ficam os bares e teatros, a vida urbana continua, olhando para a mesma laje de “poluição visual” a 5 metros de distância.

Prefeitura de São Paulo, 14-09-2006
http://centrosp.prefeitura.sp.gov.br/projetos/roosevelt.php

O Globo, 23-02-2006
http://oglobo.globo.com/sp/mat/2006/02/23/191952835.asp

Estado, 08-06-2007
http://txt.estado.com.br/editorias/2007/06/08/cid-1.93.3.20070608.5.1.xml

Folha de São Paulo, 08-12-2007
www.vivaocentro.org.br/noticias/clipping/081107_folhasp1.pdf

6 thoughts on “Praça Roosevelt – mais uma revitalização

  1. Caro Rubens,
    Convido você a compartilhar o seu conhecimento do problema conosco então. Dependendo da sua argumentação até posso mudar a minha opinião sobre o assunto.
    Agradeço,

  2. Pingback: Projetos Urbanos » Praia Roosevelt

  3. Mesmo depois de tragédias como a do dramaturgo Bortolotto e seu amigo, lembro que é preciso não perder o foco do que realmente importa para que estas não aconteçam de novo.
    A Praça Roosevelt é, antes de tudo, um edificio de 5 andares sobre uma via expressa, um complexo urbanístico que funciona, com estacionamentos, serviços e vias subterrâneas. Ao nível da superficie, os usuários demonstram gostar dela: está com os horários todos programados para skatistas, exposições, desfiles. É inegável que qualquer edificio abandonado, sem limpeza nem iluminação vira covil de ratos, aranhas e marginais. Como aconteceu há algum tempo com a marquise do Ibirapuera, com o Jardim da Luz e tantos outros lugares publicos abandonados.

    O que não se explica é a indiferença da prefeitura, que até poderia autorizar, ou licitar, uma administração local, independente, com um conselho local, de moradores e usuários. Um tipo de arrendamento – apareceriam centenas de interessados! Derrubar milhares de metros quadrados de caríssima construção de grandes vãos em nome do preconceito só para fazer o faturamento de alguns grupos financeiros é absurdo e aumentará o caos no entorno do local.

    Há de fato muito preconceito, dirigido de forma doutrinária e confusa. Se fosse um livro já teria sido queimado? É preciso lembrar aos “inimigos da ditadura” que a Roosevelt foi concebida na ultima prefeitura legitimamente eleita de SP antes da ditadura militar, a de Faria Lima. Tem inumeros espaços destinados ao público; no setor na Consolação (que foi invadido pela Policia), que também querem demolir, tem até um anfiteatro, bom para uma escolinha de arte dramática. Mas Paulo Maluf e seus asseclas, que nunca foram capazes de produzir um só pensamento util, deformaram seu uso (fizeram até boate!) e criaram muitos problemas, felizmente todos solucionáveis.

    Demolir o que? Tudo? Implosão total, 27 mil m3 de concreto em cima da pista da Ligação Leste Oeste? Só para tirar o entulho serão necessários uns 4 anos. E demolir só o Pentágono, que tem mais de 5 mil m2, é uma ação de extremo perigo, pois a estrutura só tem UM unico pilar fixo, o central (TODOS os outros são articulados em coxins). Se estourar isoladamente UMA viga do teto o conjunto todo desaba em cima da laje do estacionamento, que pode ir caindo até chegar na Via Leste Oeste.

    A critica da intelectualidade senil é cheia de descasos. Descaso pelo que não compreendem, descaso pelo suado dinheiro público (suado pelo contribuinte, é claro), descaso pela verdade. Qualquer edificio abandonado vira covil de marginalidade em pouco tempo. Campos Elísios, Santa Efigênia, mostram a que me refiro. Até o Copan quase chegou aí, quase se transformou num São Vito ou num Edificio das Nações, mas hoje é patrimonio cultural, tombado pelos intelectuais, os mesmos que não conseguem compreender conceitos elementares de administração e vitalização de espaços públicos, justamente os conceitos aplicados por um síndico que salvaram o Copan da decadencia total. Na verdade estes olimpicos dogmáticos odeiam o pragmatismo, a unica atitude capaz de cuidar do cotidiano. É claro que lixo e descaso só atraem moscas. E tiram do povo o pleno direito do desfrute. Demolir 10 mil m2 de construção com base em preconceitos como este é um crime de desperdício de muito dinheiro que poderia ser melhor empregado em pintura, conservação, ajardinamento, contratação de pessoal e implantação de uma zeladoria responsável. São Paulo já tem muitos exemplos de bom senso prático, seja nas adaptações de velhas fábricas, gasômetros, ou até sobras de terreno transformados em pequenas praças, em vez de depósitos de lixo e imundicie. Uma reforma radical e demolidora na Praça Roosevelt poderá prejudicar até a revitalização que já foi conseguida pelo pessoal do teatro. Preciso é terminar com a arrogância, com os preconceitos e os interesses politicos-financeiros mimetizados de ressentimento.

  4. Ocupemes a Roosevelt! Por que não instalar nela uma feira de artes ou de antiguidades a exemplo do que acontece na República e na Benedito Calixto. Isso precisa ser disponibilizado pela prefeitura que só é eficiente e rápida na hora de cobrar impostos e aplicar multas…mas quando é necessário tomar atitudes para o bem da comunidade, a burocracia e a falta de vontade política imperam. É uma vergonha o estado em que a praça de encontra.

  5. Pingback: Urban Change – Projetos Urbanos » Blog Archive » Praça Roosevelt – revista Acrópole

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