O vazio urbano não ocorre apenas nas cidades existentes, crescidas ao longo do tempo, mas também nas cidades utópicas modernistas. Por que?
Apesar das funções diferentes do vazio em cada um dos planos, no geral parece ter a vantagem de flexibilidade futura e controle social e ambiental do espaço urbano.
Ville Radieuse – Le Corbusier 1933
Na Ville Radieuse, do Corbusier, avenidas amplas e limpas entre os megablocos urbanos deveriam resolver o trânsito, cáos e sujeira do velho centro de Paris. No caso da Broadacre City, de Frank Lloyd Wright, o vazio na malha urbana é um sistema de áreas verdes de natureza selvagem preservada, incorporado na cidade durante a expansão para garantir o bem estar do cidadão.
Broadacre City – Frank Lloyd Wright 1935
Plano Piloto de Brasília – Lúcio Costa 1955
Em Brasília, utopia construída a partir do projeto de Lúcio Costa, o vazio é uma continuação do deserto dentro da cidade, prevendo a expansão de edificações do governo e de serviços em alguns lugares. As grandes distâncias e o sistema rodoviária do Plano Piloto fazem do espaço urbano literalmente um deserto sem vida fora das superquadras e sem possibilidades de juntar imponentes aglomerações de pessoas, já que na escala do eixo monumental tudo fica pequeno. No caso, isso garante o sossego e a segurança do governo.
No plano para a cidade Pampus, expansão de Amsterdam projetada por Van den Broek en Bakema, os aterros amplos e águas navegáveis entre as megaquadras providenciariam espaços de lazer e vistas até o horizonte para os moradores.
Pampusstad – Van den Broek en Bakema 1964
Pampusstad – Van den Broek en Bakema 1964
Nas cidades utópicas contemporâneas esses vazios amplos no tecido urbano estão desaparecendo. A Masdar City (Emirados Árabes) é uma cidade murada sem carros e com ruas estreitas. Esta cidade, projetada por Norman Foster, depende do vazio em volta dela para instalar campos de placas fotovoltáicos. Dongtan, expansão sustentável de Shanghai, projetada e gerenciada por ARUP, também possui um layout compacto. Todo espaço entre os edifícios é paisagismo planejado.
Dongtan – ARUP 2010 (estimativa da inauguração)
Masdar City – Norman Foster 2006
Por que o vazio sumiu dos projetos utópicos? É que não deu certo no passado? Certamente os arquitetos não se deixariam desanimar pela realidade, acho difícil! Será que é porque cidades compactas hoje são consideradas mais ecológicas, mais fáceis de resolver em termos de mobilidade e transporte público? Talvez… com certeza as cidades utópicas contemporâneas são cidades ecológicas / sustentáveis.
Quem souber onde ficou o vazio na utopia de hoje, pode falar…