Projetos urbanos e participação popular

Projetos Urbanos e Estatuto da Cidade: limites e possibilidades
Artigo por Nadia Somekh (arquiteta e diretora da FAU Mackenzie)
www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq097/arq097_00.asp

Nadia Somekh cita, como muitos autores, projetos urbanos na Espanha e Argentina. Segundo a autora, os projetos urbanos no Brazil não conseguem alcançar o patamar desses exemplos porque possuem índices muito inferiores de investimento pelo poder público, além de não utilizar todo potência dos instrumentos de participação popular nos projetos.
Falando do caso do centro histórico de São Paulo, ela destaca alguns planos e ações a partir de 2000 para melhorar as condições de trabalho, limpeza urbana e manutenção do espaço público central, resgate do centro como pólo de lazer, entretenimento e turismo. Em relação aos efeitos sociais do Estatuto da Cidade, ela é pessimista.

Puerto Madero, Buenos Aires 2008Foto Merten Nefs

Surgem algumas perguntas:

> Quais foram os projetos participativos no centro de São Paulo? (No artigo se fala muito nas parcerias público-privadas e pouco na participação popular)
> A orla de Barcelona e Puerto Madero são realmente bem succedidos do ponto de vista social e ambiental?
> Existe mais participação da população em Barcelona, Buenos Aires ou Milão?
> E se for o caso, é porque lá a população se importa mais em participar, ou porque lá existem estruturas mais abertas para ouvir a população e permitir que ela contribua com projetos e ideías?

Puerto Madero, Buenos Aires 2008Foto Merten Nefs

Fragmentos do artigo:

“O diferencial brasileiro, no entanto, reside na baixa capacidade do poder público em investir recursos em áreas de transformação urbana. […]
A principal crítica que se faz às operações urbanas principalmente de São Paulo, é a falta de Projeto global, com desenho urbano, transparência (superado pela existência de conselhos gestores) e efetiva redistributividade e impacto social positivo. […]

Entendemos que os instrumentos do Estatuto da Cidade se bem utilizados e articulados nos PD e nas operações urbanas, poderão constituir avanços consideráveis, garantindo espaços democráticos, participativos e ecologicamente equilibrados nas cidades brasileiras. No entanto, de nada servem instrumentos técnicos, sem a mobilização da população e a construção coletiva de uma cidade mais justa. É importante garantir espaços que permitam esta ação coletiva.
[…] no caso das OU [ Operação Urbana] Anhangabaú (1991) e da OU Centro (1997) poucos foram os resultados da aplicação desse instrumento.”

Uma das manifestações quase diárias na Avenida de Mayo, Buenos Aires

Driving Detroit

Detroit is famous for its automobile industries but also for its central wastelands. First the center, and then the first rings around the center have been abandoned by the population who moved to the suburbs. This means the city is hollowing out from the inside.
The project Driving Detroit explores 2.100 streets, 2.700 miles of the city, from downtown to 8 Mile. The drive is presented in photos and videos and clever mapping of recent buildings and abandoned ones.

http://media.freep.com/drivingdetroit/mcgrawsmap.html

Image Driving Detroit

O vazio nas Cidades Utópicas

O vazio urbano não ocorre apenas nas cidades existentes, crescidas ao longo do tempo, mas também nas cidades utópicas modernistas. Por que?

Apesar das funções diferentes do vazio em cada um dos planos, no geral parece ter a vantagem de flexibilidade futura e controle social e ambiental do espaço urbano.

Ville Radieuse - Le Corbusier
Ville Radieuse – Le Corbusier 1933

Na Ville Radieuse, do Corbusier, avenidas amplas e limpas entre os megablocos urbanos deveriam resolver o trânsito, cáos e sujeira do velho centro de Paris. No caso da Broadacre City, de Frank Lloyd Wright, o vazio na malha urbana é um sistema de áreas verdes de natureza selvagem preservada, incorporado na cidade durante a expansão para garantir o bem estar do cidadão. Broadacre City - Wright, imagem Museum of Modern Art NY
Broadacre City – Frank Lloyd Wright 1935

Brasília, foto Merten Nefs
Plano Piloto de Brasília – Lúcio Costa 1955

Em Brasília, utopia construída a partir do projeto de Lúcio Costa, o vazio é uma continuação do deserto dentro da cidade, prevendo a expansão de edificações do governo e de serviços em alguns lugares. As grandes distâncias e o sistema rodoviária do Plano Piloto fazem do espaço urbano literalmente um deserto sem vida fora das superquadras e sem possibilidades de juntar imponentes aglomerações de pessoas, já que na escala do eixo monumental tudo fica pequeno. No caso, isso garante o sossego e a segurança do governo.
No plano para a cidade Pampus, expansão de Amsterdam projetada por Van den Broek en Bakema, os aterros amplos e águas navegáveis entre as megaquadras providenciariam espaços de lazer e vistas até o horizonte para os moradores.

Pampusstad - Van den Broek en Bakema
Pampusstad – Van den Broek en Bakema 1964

Pampusstad - Van den Broek en Bakema
Pampusstad – Van den Broek en Bakema 1964

Nas cidades utópicas contemporâneas esses vazios amplos no tecido urbano estão desaparecendo. A Masdar City (Emirados Árabes) é uma cidade murada sem carros e com ruas estreitas. Esta cidade, projetada por Norman Foster, depende do vazio em volta dela para instalar campos de placas fotovoltáicos. Dongtan, expansão sustentável de Shanghai, projetada e gerenciada por ARUP, também possui um layout compacto. Todo espaço entre os edifícios é paisagismo planejado.

Dongtan - ARUP
Dongtan – ARUP 2010 (estimativa da inauguração)

Masdar City - Norman Foster
Masdar City – Norman Foster 2006

Por que o vazio sumiu dos projetos utópicos? É que não deu certo no passado? Certamente os arquitetos não se deixariam desanimar pela realidade, acho difícil! Será que é porque cidades compactas hoje são consideradas mais ecológicas, mais fáceis de resolver em termos de mobilidade e transporte público? Talvez… com certeza as cidades utópicas contemporâneas são cidades ecológicas / sustentáveis.

Quem souber onde ficou o vazio na utopia de hoje, pode falar…

Ordos 100

Image Ordos official website
This month in Ordos, inner Mongolia, starts the construction of 100 villas, on 100 sites of 1000 square meters, by 100 international architects. The group of architects that will design this new “Weissenhof Siedlung” is chosen by Herzog & de Meuron, under supervision of chinese artist Ai Wei Wei (Beijing). The group contains 22 offices in the US, 14 from Switzerland (mostly in Basel, hometown of Herzog). The selection has caused discussions among national architectural organizations, especially in countries that are not so well-represented, for example in the UK (1 national representative). The idea is to build the houses in 100 days.
Foto Moving Cities

See also:

Ordos 100 official website
www.ordos100.com

Comments by Lebbeus Woods (US)
http://lebbeuswoods.wordpress.com/2008/05/07/o-ordos/

Report by Moving Cities (China)
http://movingcities.org/embedded/ordos100/

Article by Building Design (UK)
www.bdonline.co.uk/…